sexta-feira, 30 de julho de 2010

Diálogo entre cultura impressa e digital responde ao desafio da formação do leitor

JC e-mail 4064, de 30 de Julho de 2010.

Conferencistas discutem na Reunião Anual da SBPC saídas para a formação de leitores na cultura digital, onde o professor é emigrante e o aluno é o nativo

Professores de ensino fundamental e médio vivem em todo mundo talvez o maior desafio da sua história: formar leitores em uma sociedade que sofreu a mudança drástica da cultura impressa para a digital e do paradigma de leitura para o de navegação. Como a escola pode formar leitores nessa contemporaneidade, quando impera uma cultura à qual os professores aderem como emigrantes, enquanto os alunos são os nativos?

E como fazer desse leitor.com recém-inventado, esse adolescente zapper que ziguezagueia como um pássaro, um autor intérprete crítico e produtor de sentidos? E ainda: como potencializar as possibilidades de interatividade e multilinearidade da internet em favor da apreensão de saberes complexo em uma sociedade lan house, onde reina o sensorial, o efêmero e a superficialidade dos chats e jogos virtuais?

A busca de respostas a esse desafio reuniu três educadoras em torno da conferência "A formação do leitor no século XXI", realizada na tarde de quarta-feira (28/7), terceiro dia da 62ª Reunião Anual da SBPC, no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

As pesquisadoras Maria Zaíra Turchi, da Universidade Federal de Goiás (UFG), e Marly Amarilha, da UFRN, apresentaram reflexões e saídas para esse impasse, tão urgente e emergente a ponto de constituir grupos de estudos e uma linha de pesquisa dentro da SBPC.

Alice Aurea Penteado, professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), complementou a discussão apresentando os critérios de compra de livros dentro do Edital de Convocação para o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE 2011), que primam pela oferta de uma linguagem atraente para os jovens. O diálogo relacional entre gerações e linguagens diferentes, a postura do professor-aprendiz e a convicção de que nenhuma forma de leitura é superior à outra são posições compactuadas pelos palestrantes como ponto de partida para o enfrentamento da questão contemporânea da leitura.

O professor precisa suspender o preconceito contra a cultura digital e imergir no universo dos adolescentes para criar possibilidades de formação do gosto pela leitura, como Maria Zaíra. Mas também não deve se sentir inferiorizado diante das novas tecnologias e nem se acuar como se não tivesse, com sua experiência letrada e impressa, mais contribuição a dar para a formação desse leitor zappeante, conforme alertou Marly Amarilha. É justamente na tangência entre as duas culturas - digital e impressa - que reside a riqueza do momento contemporâneo e é nessa troca que se abrem novas possibilidades de ensino, como pode se abstrair do debate.

Valendo-se do conceito de hipermodernidade do filósofo Gilles Lipovetsky, Zaíra lembrou que a internet é a configuração simbólica mais poderosa da hipermodernidade, caracterizada pela hiperprofusão de imagens. Na hipermodernidade, as esferas da vida humana vivem uma escalada ilimitada em busca da velocidade e da visibilidade.

Como nunca antes, a sociedade de consumo se constitui pelo signo do excesso e da exacerbação da mercadoria, marcas e serviços. Os comportamentos e os adolescentes estão imersos nessa engrenagem que coloca a própria escola em crise, uma vez que as mídias são muito mais eficazes do que ela na multiplicação dos gestos, dos comportamentos, dos valores e das linguagens, lembra a estudiosa.

Nessa sociedade de explosão de linguagens, o papel da escola é muito mais complexo, porque não se trata apenas de ensinar a ler na concepção clássica, mas de "ler além da linguagem verbal, a visual, a auditiva, olfativa, gustativa, bem como os gestos, as cores, a moda, o comportamento".

Citando Décio Pignatari, no capítulo "Você sabe ler objetos?", do livro Semiótica e Literatura, ela enfatiza a necessidade de a escola perceber-se no tempo em que a explosão de informações seguiu-se a explosão de linguagens, na televisão, no cinema, no trânsito, na arquitetura, na publicidade, na informática, na literatura, nos códigos, enfim, da Babel cotidiana.

"Consumir é comunicar-se. Não há dúvida de que a inserção do jovem no contexto histórico depende não apenas da sua capacidade de leitores de palavras, mas da sua destreza enquanto leitores de múltiplas linguagens".

Na cena presente, a compreensão de uma gramática das imagens como estratégia de leitura é tão importante quanto a alfabetização para ler o código escrito. Navegar no espaço virtual exige dos leitores formados em outra cultura, em outro ritual, uma nova compreensão e uma nova atitude, defende.

"Talvez nós professores estejamos precisando de um explicador", diz ela, referindo-se metaforicamente à bela passagem de A linguagem secreta do cinema. Nessa obra, Jean-Claude Carrière conta que, no início do século XX, era comum nos cinemas, bem ao lado da tela, a presença de um funcionário para explicar ao público o que estava acontecendo no filme. A figura do explicador só desaparece em 1920, quando bem ou mal o público já estava alfabetizado na linguagem cinematográfica.

A formação do leitor contemporâneo deve considerar a sua participação cotidiana nas novas mídias digitais, marcada pela interatividade, acrescenta a conferencista. Ao unir, de modo sequencial, fragmentos de informações de naturezas heterogêneas, o leitor experimenta na sua interação com o potencial dialógico da hipermídia um tipo de comunicação multilinear em que está livre para estabelecer sozinho a ordem textual ou para se perder na desordem das partes.

"O navegador coloca em ação habilidades de leitura distintas daquelas empregadas pelo leitor de um texto ou livro impresso". Esse leitor imersivo atua como editor ao escolher o que ler. Nesse ponto, a professora da UFRN, Marly, complementa que, tão importante quanto ensinar a ler é ensinar a ter critérios de escolha de fontes de leitura no mundo virtual.

Zaíra propõe ainda que a escola conheça as possibilidades das novas formas de leitura interativa, sobretudo a dos blogs de escritores, que permitem a interatividade na construção da narrativa. Segundo sua pesquisa sobre a participação de adolescentes em blogs de autor, essa escrita é marcada pela brevidade dos textos, escritos em linguagem coloquial, com a grafia correta, mas sem o uso constante do internetês, como fazem os leitores de outros blogs.

O prazer reside no uso das possibilidades interativas, na liberdade do comentário, da interferência imediata no texto, alterando a sequência, as conexões entre os personagens ou mesmo reescrevendo as histórias, como em um jogo textual. A popularização do escritor nos blogs, com sua presença na tela ou nas conferências virtuais, é capaz de alterar o padrão de consumo intelectual e interferir nas escolhas de livros dos leitores, acredita.

Citando a pesquisadora argentina Beatriz Sarlo, defende que a escola beneficie-se do que seus alunos aprendem em outros lugares e aproveite as habilidades hipertextuais de leitura. Mas isso "até certo ponto", como diz Sarlo. É que, segundo a autora, essas habilidades, caracterizadas pela rapidez e o imediatismo, pela emoção do jogo, mas também pela brevidade e pelo desinteresse no pormenor ou nas entrelinhas, não fornecem capacidades suficientes para a aquisição de outros, tais como precisão verbal, interpretação e produção de argumentações escritas. "Ou seja, são insuficientes para transformar um adolescente em leitor e produtor de textos".

É aí que entra o professor emigrante como colaborador do nativo, na nomenclatura proposta por Marly, aprendendo e ensinando com sua herança do universo impresso, não mais como um tiranossauro autoritário remanescente de eras passadas, mas como o elo de ligação do mundo da escrita com o mundo presente.

Esse professor, que em um futuro próximo talvez nem receba mais esse nome, ao mesmo tempo estrangeiro e habitante dessa plataforma de bits e vídeogames, ocupa o entrelugar privilegiado para fazer o corte na adesão eufórica e acrítica às novas tecnologias e mostrar que a própria escrita engendrou a internet não como um artefato alienígena ou futurista, mas como um invento tecnológico e cultural capaz de ajudar a construir sujeitos históricos mais livres.

(Raquel Wandelli, para a SBPC)

sábado, 24 de julho de 2010

:: Enquetes

Olá...

Incluí na barra lateral direita do blog duas enquetes. O objetivo delas é interagir com os visitantes e obter feedback sobre o conteúdo publicado.

A enquete 1 solicita que os visitantes avaliem o conteúdo das postagens do blog. A enquete 2 pede que os visitantes dêem sugestões sobre o conteúdo que gostariam de encontrar no blog. Na enquete 2 é possível que se marque mais de uma opção.

Assim, peço aos visitantes que contribuam dando suas opiniões nas enquetes. As informações que serão obtidas ajudarão em decisões sobre os conteúdos a serem publicados.

Abraços.

Prof. Marcelo Marchine Ferreira

quinta-feira, 22 de julho de 2010

:: Medicina desvirtuada


Olá a todos...


Reproduzo abaixo parte de um artigo de Dioclécio Campos Junior sobre a prática da medicina atualmente, sobre a formação das novas gerações de médicos e sobre a aplicação da Tecnologia no contexto da profissão. E esse foi o principal motivo de apresentar o artigo aqui. Ele nos faz refletir um pouco sobre o papel e uso da Tecnologia no contexto profissional.


Talvez o artigo possa complementar e ampliar as reflexões feitas sobre a postagem da prof. Divânia, ao trazer o poema "Maquinomem".


Abraços.

Prof. Marcelo Marchine Ferreira


Artigo de Dioclécio Campos Júnior
JC E-mail 4058, de 22 de Julho de 2010.

"O preparo das novas gerações de médicos passou a ingressar num atalho sem saída. Rompeu os alicerces da formação em benefício da informação. Desmereceu o saber científico integral em favor do procedimento técnico especializado"

Medicina é a profissão cuja sobrevivência está mais ameaçada pelo rolo compressor da tecnologia. Desfigura-se a olhos vistos. Perde substância. Deixa-se impregnar pela onda de automação avassaladora. Não resiste ao fascínio da era digital. Virtualiza-se. Sucumbe ao esquartejamento científico. Fragmenta-se. Esvazia-se na essência. Desintegra-se na prática.

O exercício da medicina verdadeira é indissociável de uma relação humana benfazeja entre o profissional e o paciente. Sem ela não há lugar para a recuperação plena da saúde. Tudo o mais é complementar. Não bastam equipamentos complexos, remédios miraculosos ou cirurgias fantásticas.

CONTINUE LENDO O ARTIGO CLICANDO AQUI

sexta-feira, 9 de julho de 2010

:: Maquinomem :: Helena Kolody

Olá.

No caderno "Integração das Tecnologias na Educação" (BRASIL, 2005), o autor Ezequiel Theodoro da Silva, publicou um texto intitulado "Revalorização do livro diante das mídias. Veículos e linguagens do mundo contemporâneo: a educação do leitor para as encruzilhadas da mídia" (p. 32-37). Neste texto, o autor cita o poema "Maquinomem", de Helena Kolody, poetisa paranaense, como possibilidade de pensar que a leitura criteriosa continua indispensável para compreender a linguagem veiculada pelas mídias.

Segue o poema:

O homem esposou a máquina
e gerou um híbrido estranho:
um cronômetro no peito
e um dínamo no crânio.


As hemácias de seu sangue
são redondos algarismos.


Crescem cactos estáticos
em seus abstratos jardins.


Exato planejamento
a vida do maquinomem.
Trepidam as engrenagens
no esforço das realizações.


Em seu ínfimo ignorado,
há uma estranha prisioneira,
cujos os gritos estremece
a metálica estrutura.


E há reflexos planejantes
de uma luz imponderável,
que perturbam a frieza
do blindado maquinomem.

Em que medida este poema nos permite pensar a relação humana com o mundo moderno e com a disseminação de novos meios de comunicação e informação?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

:: Exigência de Nível Superior para quem leciona na pré-escola e nas séries iniciais do ensino fundamental

Olá...


Notícia que interessa aos formadores de professores para a pré-escola e séries iniciais do ensino fundamental.


Abraços.


Marcelo M. Ferreira


Do JC e-mail 4047, de 07 de Julho de 2010.

13. Nível superior para quem leciona

Comissão do Senado aprova obrigatoriedade de formação universitária

A Comissão de Educação do Senado aprovou na terça-feira (7/7) projeto de lei que torna obrigatória a formação universitária para dar aulas na pré-escola e nas primeiras cinco séries do ensino fundamental. Pelo texto, sempre que um professor com curso Normal de nível médio for contratado na rede pública, ele terá seis anos para apresentar o diploma de graduação. Caso contrário, ficará inabilitado para a atividade.

Continue lendo aqui...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

:: Qualidade no ensino :: Guiomar Namo de Mello

Olá...


Recebi o artigo abaixo transcrito pelo JC E-mail e considerei interessante reproduzi-lo aqui. 


Abraços.


Artigo capturado no JC e-mail 4042, de 30 de Junho de 2010.
Publicado originalmente no jornal O Globo, de 30/06/2010.

"No Brasil o lado estruturante do ensino é ainda mais importante"

Guiomar Namo de Mello é diretora executiva da Fundação Victor Civita. Artigo publicado em "O Globo":

Permeia o imaginário pedagógico brasileiro a visão do ensino como um processo de criatividade perpétua no qual o professor inventa e reinventa tudo de novo, todo dia. Essa visão ignora que o ensino, embora seja uma prática sujeita ao "toque" pessoal, como toda prática, tem um lado estruturante: precisa ser organizado no tempo e no espaço; o professor precisa saber o que ensinar (conteúdos); quando (ano escolar, série ou período); como ensinar (conjunto de saberes e fazeres que envolvem métodos e orientações para organizar a aula) e com que ritmo (ordenação e cadência).

Para quem domina bem o conteúdo e a forma de ensiná-lo, a estruturação será um roteiro básico a ser adotado de modo flexível. Para o inexperiente ou que não sabe ensinar porque não aprendeu, a estruturação é a salvação de seus alunos: ajuda o professor a cumprir um roteiro de ações e procedimentos que propiciam aprendizagem aos alunos que estão na escola hoje, e facilita que ele acumule experiência e conhecimentos práticos, para ser mais criativo no futuro.

No Brasil o lado estruturante do ensino é ainda mais importante. Grande parte dos professores chega à sala de aula sem dominar o conteúdo e os métodos de ensino. Esse professor enfrenta um desafio complexo, que é fazer aprender as crianças que vêm de um universo alheio à cultura escolar.

Ele precisa de apoio contínuo para não acumular frustrações de fracasso diante da tarefa. E esse apoio precisa ser prestado já, porque os alunos de hoje não podem esperar. Esse é o sentido pleno da educação de qualidade para todos: para todos os que já estão na escola.

Sistemas estruturados de ensino são também chamados de materiais curriculares, porque na verdade é isso que são: um currículo em ação, organizado de tal forma que pode ser colocado em prática na escola agora.

Neles, os conteúdos e os fazeres do ensino estão estruturados com começo, meio e encerramento para cada etapa, que pode ser uma aula, uma unidade ou um ano inteiro.

O estudo da Fundação Lemann oferece evidências para corroborar essa verdade óbvia, mas difícil de ser aceita: os alunos aprendem mais nas localidades que adotam os sistemas estruturados de ensino, porque a escola e o professor contam com recursos didáticos e assistência pedagógica que lhes dão apoio no dia a dia para definir o que, o quando, e o como ensinar e cadenciar o desenvolvimento do ensino. Não é preciso ser um grande especialista para entender que esse ordenamento do ambiente escolar é mais produtivo do que a cacofonia curricular que ainda hoje impera em muitas das nossas escolas públicas.